[Note: the following text is taken from the text version of Faria, Manoel Severim de, Noticias de Portugal, Lisboa: Na Offic. de Antonio Gomes, 1791, pp.240ff. (Internet Archive.) I corrected typographical errors due to the OCR system misrecognition, but there may still exist such errors. Please consult printed version for academic purpose. And also I collated the text with 1655 edition, pp.115ff. Between 1655 edition and 1791 edition, there are difference in orthography and also grammer seems to have been changed in over 100 years and I followed the older edition's convention (The reason I chose 1791 edition is that I thought newer printing can be better optically recognized). For the notes, 1) 1655 edition has no note number, so I used the note number of 1791 edition; 2) 1791 edition omits those notes in 1655 edition that are not notes in modern sense but some kind of summary or index and I revived them (indicated with * sign). There is also 1740 edition, which I did not consulted.   S. U.]
Dos officiais, que os Reys de Portugal crearaõ para 
conservaçaõ das insiguias dos Nobres, & da 
casa das armas de Cintra. 
§. 18. 
NA conservaçaõ das Armas da Nobreza poseraõ os Reys 
muito cuidado, (44) entendendo, que foraõ ganhadas pelo 
valor dos fidalgos deste Reino, na recuperaçaõ delle. E como a 
grandeza, & segurança de seus estados consistia no valor dos 
Nobres, por galardaõ, & agradecimento de tantos serviços, 
procuraraõ conservar as armas de quada familia. Foi este intento 
tam antigo nos Reys de Portugal, que se conta na Chronica 
delRey Dom Fernando cap. 30 [The link is to cap. 130 (vol.3, p.46 of the edition) which seems to be more correct; see vol.3, p.47] que mandou fazer hum rico paramento 
todo bordado de aljofares com as armas dos fidalgos 
de Portugal, de modo, que naõ tiveraõ menos cuidado da conservaçaõ 
dos seus brazoẽs, que dos Appellidos; querendo, que sò 
aquelles, a quem de dereito tocavaõ, fossem honrados com ellas. 
Para isto ordenaraõ os Reys de Armas, em cujos livros mandarão 
pintar as insignias de todas as linhagẽs do Reino. 
(44) Regimento 
dos officiais 
da armaria.
    Começaraõ estes officios em tempo delRey Dom Ioaõ I. 
porque ate entaõ, pelas poucas mudanças, que ouve em Portugal, 
eraõ todos os nobres conhecidos; & pacificamente possuia 
quada hum as heranças, & honras, que de seus passados alcançara. 
Porem como por morte delRey Dom Fernando se seguiraõ 
tam largas, & continuadas guerras sobre a successaõ desta 
Coroa, sustentando hũs as partes da Rainha Dona Brittis filha 
do morto Rey Dom Fernando, & mulher delRey Dom Ioaõ de 
Castella, & outros, as do Mestre de Avis, & Rey Dom Ioaõ I. de 
Portugal, foi tanta a variedade, & alteraçaõ das cousas, que com 
razaõ diz o Chronista, (45) que começou entaõ neste Reino, em certo 
modo, a septima idade do mundo; porque gram parte das familias 
nobres, que seguiraõ a opiniaõ de Castella, ficaraõ extinctas, 
& acabadas de todo; & alguãs , que sustentaraõ as partes 
delRey Dom Ioaõ I. foraõ de novo levantadas, a grande lugar. 
(45) 1. p. c. 163 [Correct reference? S.U.]
Estes, como naõ eraõ dantes conhecidos, para se acreditarem 
com o povo, tomaraõ em muitas partes os Appellidos, & armas 
de outras familias antigas, que lhe naõ pertenciaõ. E assi diz 
o mesmo autor, que no dia da batalha de Aljubarrota estavaõ 
as bandeiras dos Aventureiros cheas de varias armas, & insignias, 
que a muitos naõ competiaõ. Pelo que considerando elRey 
Dom Ioaõ I. depois de ter o Reino pacifico, como a confusaõ 
desta materia era de gram prejuizo à Nobreza, movido do exẽplo 
dos Reys de Inglaterra, com quem estava aparentado, introduzio 
o officio dos Reys de Armas; & de entaõ para quá; os hà 
em Portugal. Provasse isto, porque Fernaõ Lopes na 2. p. cap. 
39. da Chronica deste Rey [A huge PDF! See pp.150-152 of this edition; In Internet Archive copy, these pages are missing. And anyway correct reference? S.U.] dà a entender claramente, que ate o 
tempo da batalha de Aljubarrota os naõ ouve; & o mesmo parece 
das historias dos outros Reys ate entaõ, nas quais se naõ 
acha feita mençaõ alguã de Reys de Armas; & com tudo de entaõ 
para quà se trata delles nas Chronicas dos Reys ordinariamente 
nos lugares, que lhe cabe. Pelo que he evidente, que elRey 
Dom Ioaõ foi o primeiro, que os mandou vir a Portugal. 
Porem vendo elRey Dom Manoel, como ainda esta materia 
naõ estava em sua perfeiçaõ, mandou Antonio Rodrigues seu 
Rey de Armas ás Cortes dos mais dos principes Christaõs a saber 
em particular as obrigaçoẽs, & usos, que os officiais da Nobreza 
tinhaõ: & depois que assentou a ordem, {q´}† se avia de guardar, 
pos o nome, ou (como se diz nos livros de Armaria) baptizou 
de novo fallando equivocamente, com grande solemnidade nos 
Paços da Ribeira tres Reys de Armas com seus Arautos, & Passavantes; 
& mandou ver varias sepulturas do Reyno para dellas 
se notarem as armas, & insignias dos fidalgos;  de muitas das 
quais fez pintar os escudos com suas cores, & Timbres em huã 
fermosa salla, que para isso mandou edificar nos Paços de Sintra (*); 
& deu comprido Regimento aos Officiais da Armaria para 
a conservaçaõ da Nobreza, & armas das familias, de modo que 
naõ ouvesse mais a confusaõ antiga. 
* Casa de Sintra.
† Small letter q with acute accent. S.U.
    Na Casa de sintra naõ estaõ todos os Brazoẽs, porque naõ 
cabiaõ, & só se pintaraõ os das familias, que entaõ parece andavaõ 
na Corte, & no serviço do Paço. 
    No meio do tecto da salla estaõ as armas Reais de Portugal, 
ao redor as do Principe, Infantes Dom Luis, Dom Fernando, 
Dom Afonso, Dom Henrique, Dom Duarte, Dona Isabel, D. 
Brittis. 
    Em baixo se vem 74. Brazoẽs, com o que está sobre a porta 
de diversos Appellidos , pendurados quada hum do collo de hũ 
Veado, que nos cornos tem o Timbre; estaõ em dous circulos, 
que por o serem, naõ hà nelles precedencia; & por isso vaõ aqui 
pela ordem das letras. 
A 
Abreu, Aboim, Aguiar, Albergaria, Albuquerque, Almada , Almeida, 
Andrade, Area, Azevedo , Atahide. 
B 
Barreto, Betancor, Borges, Britto. 
C 
Cabral, Carvalho, Castelbranco , Castro de seis Arruelas ,
Castro de treze, Coelho, Corte Real, Costa, Coutinho, Cunha. 
E 
Eça. 
F 
Faria, Ferreira. 
G 
Gama, Goes, Gouvea, Goyos. 
H 
Henriques. 
L 
Lemos, Lima, Lobatos , Lobeiras, Lobo. 
M 
Malafaya, Manoel, Mascarenhas, Meira, Mellos, Mendoça, Meneses, 
Miranda, Monis, Motta, Moura. 
N 
Nogueira, Noronha. 
P 
Paçanha, Pacheco, Pereira , Pimentel, Pinto. 
Q 
Queirós. 
R 
Ribafria, Ribeiro. 
S 
Sà, Sampayos, Sequeira, Serpa , Serveira, Sylva, Sylveira, Souto-Maior, 
Sousa. 
T 
Tavares, Tavora, Teixeira. 
V 
Valente , Vasconcellos, Vieira. 
Por baixo ao longo da aba do forro deste tect estaõ escritos 
estes quatro versos nos quatro lados das paredes da casa com 
letras palmares de ouro. 
Pois com esforço, & leais 
Serviços foraõ ganhados 
Com estes, & outros tais 
Devem de ser conservados. 
Desta casa faz mençaõ Damiaõ de Goés na Chronica delRey 
Dom Manoel, quarta parte cap. 86. fol. 112.† com estas palavras: 
Mandou ver todalas sepulturas do Regno, para dellas se notarem as armas, 
& insignias, & letreiros, que nellas avia, das quais armas mandou no 
Paço de Sintra pintar todolos escudos com suas cores, & Timbres em huã 
fermosa salla, que para isso mandou fazer: alem do que mandou fazer hum 
livro muito bem luminado, em que estaõ pintados os mesmos escudos da linhagem 
da Nobreza destes Reinos, &c. 
    Succederaõ estes Reys de Armas modernos aos antigos Feciales 
Romanos, (46) que eraõ os que publicavaõ as pazes, & guerras 
nos exercitos, de que faz mençaõ muitas vezes Livio, & outros 
authores latinos. Este cargo rinhaõ entre os Gregos os Caduceatores, 
& entre Carthagineses os Trombetas, & outros em 
outras Provincias, segundo o uso de quada naçaõ. Diogo do Mõte 
citado por Dom Sebastiaõ de Covarruvias (47) affirma, que Iulio 
Cesar institutuio certas dignidades, que se davaõ a doze Cavalleiros 
antigos depois de jubilados na Milicia; os quais levavaõ 
nas vestiduras as insignias do Principe, & nenhuãs armas offensivas; 
(46) Blond. Roman, triumph. l. 4. [More specifically, p.86? S.U.] 
(47) Thes. de la lang. Cast. [More specifically, REY DE ARMAS (p.315 of the 2nd part, though not page numbered). S.U.] 
† More specifically see p.604 left column. S.U.
porque estes naõ pelejavaõ, mas advertiaõ, & notavaõ 
somente os feitos valerosos dos soldados; para que depois se 
desse o premio aos benemeritos, & esforçados, & lhes deu nome 
de Heroes, & diz que Carlos Magno renovou estes cargos 
com as mais cousas do Imperio latino; & do nome Heroes se 
differaõ Heraldos, & Heraos, como os chamaõ em França. E 
assi tiveraõ antigamente grande authoridade, & delles usaraõ 
os Prinncipes de Alemanha, Inglaterra, Castella, e Portugal. 
    Hà tres especies delles, os primeros, & menores saõ chamados 
Passavantes, os quais tem o nome da principal villa da sua 
Provincia. Estes antigamente tinhaõ por officio andar por varias 
Provincias vendo os usos, & costumes dellas. Os segundos se 
chamaõ Arautos, & eraõ ordinariamente os interpretes dos 
Reys, & os que levavaõ seus recados na guerra, de que hà assaz 
de exemplos na historia delRey Dom Afonso V. & na de Dom 
Carlos V. Emperador, & Rey de Castella: para o que quasi de 
todas as gentes tiveraõ salvo conducto. Tomaõ o nome da principal 
cidade do Reino. Vltimamente saõ os Reys de Armas, que 
se intitulaõ do nome da Provincia. 
    Neste Reino hà tres officiais de quada Provincia, quada hum 
de sua especie. Os nomes de que usaõ, saõ Rey de Armas Portugal, 
Arauto, Lisboa, Passavante, Santarem, Rey de Armas Algarve, 
Arauto Sylves, Passavante Lagos, Rey de Armas India. Arauto 
Goa, Passavante Cochim. Os Reys de Armas tem obrigaçaõ 
neste Reino, segundo o Regimento, que lhes deu elRey Dom 
Manoel, de quada hum em sua Provincia fazer hum livro, em 
que se escrevaõ todas as familias dos Nobres, & fidalgos, que 
nella vivem, apontando os casamentos, & filhos, que quada hum 
hà; & fazendo disso arvores certas, & distinctas com seus nomes; 
& por este trabalho manda elRey lhe dem os fidalgos suas gajas. 
Tem mais obrigaçaõ de fazer, que quada hum traga as armas, 
que lhe pertencem de dereito, & de visitar quada qual sua 
Provincia de dous em dous annos. Mandalhe assi mesmo elRey 
se appliquem ao estudo da Armaria, de maneira que entendaõ 
as causas, porque se deraõ as armas a quada familia; & as possaõ 
explicar, quando lhe pedirem as declaraçoẽs, assentando tudo 
em seus livros. Obrigaos a pòr em lembrança todos os feitos 
de armas, que em suas Provincias passarem; & assi mesmo as 
mensagẽs, recados, torneos, justas, retos, & desafios, especificando 
os actos de quada cousa, como na verdade passaraõ. Manda 
que elles sós possaõ passar as cartas de Armas, que se pedirem 
de novo, apresentando as petiçoẽs aos Desembargadores do Paço; 
hum dos quais farà exame de testimunhas, porque conste, {q´} 
o que pede a carta de armas, he daquella linhagem, & lhe pertence, 
& que sò o Rey de Armas as assinarà. 
    Tem tambem obrigaçaõ de assistirem nos levantamentos 
dos Reys, nos actos das Cortes, nas entradas solennes  das cidades, 
& nos exercitos, quando os Principes se achao nelles. Acompanhaõ 
nos actos publicos aos fidalgos, a quem os Reys daõ 
novos Titulos, assistem nas mesas ao comer dos Reys, & quando 
vaõ fóra pela cidade, & finalmente nos enterros, & exequias. 
Estas saõ as obrigaçoẽs dos Reys de Armas, muitas das quais 
naõ sei sese cumprem, & se he por descuido, ou pelos poucos 
premios, que recebem de seu trabalho; porque tirando a assisstẽcia, 
que fazem aos Principes nos actos publicos, & acompanhamentos, 
& o passar as cartas ordinarias de Armas, no apontar as 
geraçoẽs, naõ vi memoria alguã. Porem acudiraõ a esta obrigaçaõ 
algũs particulares, movidos do zelo do bem commum, por 
naõ se acabar a memoria da Nobreza de todo. E deixando o 
primeiro, que isto fez em Portugal, que parece foi conhecidamente 
o Conde Dom Pedro, filho delRey Dom Dinis (a quem 
deve a Nobreza de Hespanha isso, que se della fabe, como confessaõ 
os historiadores Castelhanos). Depois delle seguio esta 
empresa no que toca a este Reyno somẽte Xisto Tavares Quartanario 
da Sé de Lisboa continuando alguãs famillias, de que 
trarou o Conde. Porem ainda que o fez com diligencia, escreveo 
de poucas. Imitouo Damiaõ de Goès Chronista mòr, & fez 
o livro de Geraçoẽs, que hoje està na Torre do Tombo imperseito, 
por lhe naõ dar a vida lugar ao acabar de todo, & assi tratou 
somente de poucas familias. O Cardeal Dom Henrique, como 
Príncipe tam zeloso, encommendou esta impreza a Gaspar 
Barreiros Conego de Evora (*), na qual elle confessa, que trabalhou 
muito, porem naõ lhe deu fim: & por sua morte encarregou o
* Gaspar Barreiros.
Cardeal o livro ao Bispo Hieronymo Osorio, que o acrescentou 
de alguãs cousas; & por seu fallecimento o recolheo o Bispo Capellaõ 
mór Dom Iorge de Athaide. Dom Antonio oe Lima fez 
tambem hum Nobiliario collegido dos livros dos Registos dos 
Reys mui apurado, & bom. Outro livro compos tambem de 
Geraçoẽs Diogo de Mello Pereira Prior de Tentugal, parte do 
qual chegou a se imprimir; mas por justos respeitos, & defeitos, 
que tinha na composiçaõ, foi mandado tirar da imprensa, Destes 
livros, & doutros, que nesta materia fizeraõ muitos fidalgos, 
se tem tirado muitas arvores de Geraçoẽs, as quais para serem
perfeitas, costumaõ os Italianos fazer com os retratos naturais 
de quada pessoa dentro no seu circulo, & à roda delle lhe escrevem 
o nome, & em cima lhe poem a insignia da dignidade, que 
reve, como o Coronel, sendo Titulado , a Mitra, ou Chapeo, 
sendo Cardeal, ou Pontifice: aos Santos cercaõ os circulos de resplandores; 
aos Generais dos exercitos poem por insignia o Bastaõ; 
aos Capitaẽs da Cavalleria, o Elmo; & aos Cavalleiros das 
Ordẽs Militares assentaõ os circulos sobre as mesmas Cruzes; 
& do tronco da arvore penduraõ o escudo das Armas da tal 
familia. 
    Na explicaçaõ das armas fizeraõ os officiais da Nobreza 
pouca mais diligencia; porque usando somente de certos livrinhos 
estrangeiros, que trataõ das cores, & metais dos escudos, 
todo seu intento poseraõ em explicar estas cores; dizendo que o 
vermelho significa sangue, o branco pureza, & assi outras cousas 
vulgares, que de quada cor, & metal ordinariamente se dizem, 
& por aqui explicaõ com regras gerais todos os Brazoẽs. O 
mesmo quasi fazem das peças dos escudos, dizendo que os animais 
saõ mais nobres, que as plantas, & estas, que os metais, & 
os metais, que os edificios, & outras cousas semelhantes contra 
toda a boa razaõ. Porque deste modo ficavaõ sendo mais nobres 
as armas de hum particular, que tivesse no escudo hum Lobo 
ou hũ Leaõ, que naõ as de hũ Rey, que tivessem hũ Castello, 
ou huã cadea; como saõ os de Castella, & de Navarra, ou hũs 
escudos, como os de Portugal. Pelo {q´} cõ razaõ reprovaõ esta opiniaõ 
Thomaz Garsone (48) na sua Praça universal, & Gregor. Lopes 
Madeira (49) nas Excellencias da Monarquia de Hespanha; os quais 
(48) Prazza univers. discur. 77. [DE GLI ARALDI. Discurso LXXVII.] 
(49) Excel. de la Monar. de Hesp. cap. 4. [DE LA SUCCESSION DEL REYNO de España ... y excellencia de las armas Reales.] 
resolvem, que a Nobreza das armas naõ se hà de regular pelas 
cores, ou materiais, de que cõstaõ; mas pela dignidade de quem 
as tras, ou pela bondade do acto, em que foraõ ganhadas. Sò na 
ordem de trazer as armas poseraõ maior cuidado, ordenando 
que só os Chefes tragaõ as armas direitas, que he o mesmo, 
que sem differença, & a todos os outros filhos segundos se lhe 
poem alguã peça mais no escudo para differença. Esta peça se 
toma ordinariamente das armas dos avòs. E sendo muitos irmãos, 
o primeiro tem a escolha para tomar a melhor differença. 
Vesse isto mui distinctamente na casa das armas de Sintra, 
onde mandou elRey Dom Manoel pòr as suas no meio, & à 
roda as de todos os seus filhos; dos quais hum tomou por differença 
as de Castella, outro as de Aragaõ, outro as de França, 
Inglaterra, &c. quada hum por sua precedencia. Quando 
pintaõ os escudos, os poem sempre inclinados para a parte 
direita; posto que os Chefes os trazem hoje direitos com os 
elmos fronteiros, avendo algum animal no escudo, ou outra 
peça, se poem tambem por Timbre: ninguem sendo Chefe 
pòde trazer as armas com outra mistura, tirando se o for de 
muitas geraçoẽs; porque entaõ as poderà trazer juntas. Os 
outros podem usar das dos quatro avòs, quarteadas, ou das de 
sua may somente. As mulheres trazem as armas em escudos 
quadrados postos com a ponta para cima, partindo o campo 
em palla, & deixando a parte direita delle para as armas do 
marido. 
Do modo,  com que saõ postos os nomes aos 
officiais da Armaria. 
§. 19. 
ELRey Dom Manoel depois, {q´} mandou fazer o Regimento 
dos officiais da Armaria [*], diz Damiaõ de Goès no cap. 
80. da 4. p. da sua Chronica [The link is to cap. 86 which seems to be more correct; see p.604 of the edition], que em Lisboa nos Paços da Ribeira fez 
hum acto publico muito solẽne, em{q´} deu nome a todolos 
Reys de Armas, Arautos, & Passavantes destes Reinos a quada 
* Regimento 
dos officiais de Armaria. 
hum delles separadamente da sua Provincia. Pelo que me 
pareceo bem pòr aqui as ceremonias com que estes actos se fazem; 
porque alem de pertencerem a este lugar, ategora as naõ 
vi escritas em outra parte. Estando elRey sentado debaixo do 
docel em salla publica, vem o novo Passavante, & o Rey de Armas 
o apresenta sem cotta, nem Brazaõ diante delRey, & posto 
o Passavante de juelhos faz o juramento seguinte. Foaõ 
Passavante juro a estes Santos Evangelhos nas maõs de Foaõ 
Rey de Armas, que bem, & verdadeiramente, & com todo o 
cuidado, & diligencia aprenda todo o que necessario for ao nòbre 
officio das Armas, para que dignamente posta passar, & 
ser acrescentado ao officio de Arauto, & de Rey de Armas, 
quando elRey Nosso Senhor disto ouver por seu serviço de 
me prover. E assi juro em todo o que pelo dito Senhor, & 
por aquelles, que para elle seu lugar tiverem me for mandado, 
que de meu officio de Passavante faça, & farei toda a fidelidade, 
cuidado, & diligencia, assi como devo, & saõ 
obrigado fazer ao serviço de meu Rey natural, & Senhor. 
    Acabado o juramento, o Copeiro mòr traz huã taça de prata 
branca com agua, & sem cubertura, & o Veador huã toalha, 
& dando o Copeiro mór a taça a elRey, lhe lança por cima da 
cabecça huã pouca, & lhe poem o nome da villa, que qaer, & o 
principal Senhor, que esta na salla, toma a toalha da maõ ao 
Veador, & a dà a elRey para alimpar as maõs. Feito isto, o Rey 
de Armas lhe poem o Brazaõ no peito à parte esquerda, & veste 
a cotta de armas atravessada; como he costume trazerem os 
Passavantes, & depois de vestidos, assi elles, como os mais officiais 
de Nobreza, & o Rey de Armas beijaõ a maõ a elRey, & o 
Copeiro mór dá ao Passavante a ta ça de prata em que esteve a 
agua, a qual leva na maõ, porque de dereito lhe pertence. 
    O Arauto vem a este acto vestido, ainda como Passavante, 
& acompanhandoo diante todos os officiais da Nobreza, levao 
pela maõ o principal Rey de Armas, o qual o apresenta diante 
delRey: o Arauto entaõ posto de juelhos com a maõ em hum 
Missal, que o Rey de Armas tem aberto, faz o juramento seguinte. 
    Iuro aos Santos Evangelhos nas maõs do Rey de Armas Foaõ, 
que bem, & fiel, & lealmente servirei a elRey Nosso Senhor 
toda a minha vida, & me naõ mudarei, nem passarei para nenhũ 
outro Rey, nem Principe, nem mudarei, o nome, que pelo dito 
Senhor me he posto, resalvando, se para elle o dito Senhor me 
der licença. 
    Iuro assi mesmo, que em qualquer maneira, & em qualquer 
tempo, que sentir danno, ou proveito do dito Rey Nosso Senhor, 
que a meu officio toque, & pertença, o revelarei, & direi a sua 
propria pessoa, ou a quem por elle me for mandado, resalvando 
em guerra, se o dito Rey Nosso Senhor com algum Rey, ou 
Principe a tivesse, ou com qualquer outra pessoa, a que por meu 
officio saõ obrigado guardar segredo, assi a meu Senhor, como à 
parte contraria. 
    Iuro assi mesmo, que em todas as mesagẽs, recados, embaixadas, 
de que for encarregado, assi pelo dito Rey Nosso Senhor, 
como pelos que seu lugar, & mandado para ellle tiverem, como 
de qualquer outro Rey, ou Principe; posto que estè em imizade 
com o dito Rey Nosso Senhor farei verdadeiras, & fieis relaçoẽs 
inteiramente darei, & fallarei o que me for dito, & mandado, & 
naõ acrescentarei, nem minguarei disso cousa alguã por odio, dadivas, 
nem prometimentos, nem por outro respeito algum, & 
em tudo farei verdade, servirei fielmente, &c. 
    Iuro assi mesmo, que quando me achar em alguãs justas, 
ou torneos, ou em guerras, escaramuças, desafios, asaltos, 
ou em quaisquer outros actos de guerra de qualquer sorte, 
& qualidade que sejaõ, sempre diga fiel, & verdadeiramente 
tudo aquillo, que vir por meus olhos á boa fé, & sem engano, 
nem malicia, & sem acrescentar, nem diminuir alguã cousa 
em nenhum modo que seja; & de tudo farei verdadeiro, & fiel 
testimunho, sem tirar, nem minguar, nem acrescentar a honra, 
& louvor, & fama de nenhuã pessoa por nenhum respeito 
que seja. 
    Iuro assi mesmo, que serei verdadeiro, & leal, fiel, secreto a todo 
o Estado de Nobreza; & tudo o que for dito em segredo, naõ 
somente nestes Reinos, & seus Senhorios, mas em qualquer outro 
Reino, em que me achar, ou Senhorio. 
    Iuro assi mesmo, que naõ farei desafio, nem antervirei nelle 
entre nenhuãs pessoas de qualquer qualidade, & condiçaõ que 
sejaõ, sem mandado especial delRey Nosso Senhor. 
    Iuro assi mesmo que qualquer dadiva, bem, ou honra, que receber, 
qualquer Rey, Principe, ou Senhor, a que por elRey Nosso 
Senhor for enviado, ou por quem seu lugar, & mandado para 
elle tiver, o direi a elRey Nosso Senhor: & assi a quaisquer outros 
Reys, & Principes, se por elles por isso for perguntado, naõ 
direi mais, nem menos, do que receber, nem me for feito por 
tal, que verdadeira, & fielmente notifique a nobreza de quada 
hum. 
    Acabado o juramento traz o Copeiro mòr huã copa dourada 
sem cobertura com agua, & o Veador a toalha; & elRey na 
forma ja dita lança a agua pela cabeça ao Araut, & lhe poem 
o nome da principal cidade, que hà por bem, & tomando 
elRey a toalha na forma ja dita, o Rey de Armas vira a cotta 
ao novo Arauto, & lhe poem o Brazaõ à maõ direita, publicando 
todos os officiais da Armaria em voz alta por tres vezes o 
nome do mesmo Arauto. O que feito bejaõ a maõ a elRey, & 
o Copeiro dà a Copa ao novo Arauto, que a leva na maõ por 
ser de direito sua. 
    Qauando o Rey de Armas se lhe poem o nome, vai tambem 
ao Paço acompanhado de todos os officiais da Nobreza vestidos 
com suas còttas, postos de juelhos diante delRey, faz o 
juramento seguinte em hum Missal, que o principal Rey de Armas 
tem na maõ, dizendo: 
    Iuro a estes Santos Evangelhos nas maõs de Foaõ Rey de 
Armas, que bem, & verdadeiramente darei do livro de meu Regimento 
das Armas aos Nobres as armas que direitamente se 
lhes pertencem, segundo a ordem, & Regimento, que para elle 
me he dado por elRey Nosso Senhor, que em tudo guardarei, 
cumprirei: & que por temor, nem por amor , nem por dadiva, 
nem por prometimento, nem por outro nenhum respeito, naõ 
farei nisso cousa, que naõ deva; & fialmente guardarei nisso a 
justiça, & dereito da parte a que tocar. 
    Iuro assi mesmo, que quando for enenviado com algum Embaixador, 
que elRey Nosso Senhor enviar, serei cõ todo o cuidado 
diligente a seu serviço, & fielmente farei, cumprirei tudo o que 
me for mandado, & com minha cotta de armas vestida entrarei 
onde quer que me for mandado por elRey Nosso Senhor, 
ou por seus Embaixadores. 
    Iuro de em todo cumprir, & guardar o juramento, que feito 
tenho, quando fui feito Arauto, & todas as cousas, obrigaçoẽs 
do dito juramento, & quada huã dellas cumprirei, & farei fiel,
& verdadeiramente, como no dito juramento he conteudo. 
    Feito o juramento, o Copeiro mòr traz outra copa dourada 
com sua cobertura, & o Veador huã toalha, & tomando elRey 
a copa, lança ao novo Rey de Armas a agua pela cabeça, & lhe 
poem o nome da Provincia, que hà por bem. E depois de lhe 
darem a toalha na forma referida, os officiais da Nobreza publicaõ 
logo o nome do novo Rey de Armas, & recebe a copa, 
que teve a agua, da maõ do Copeiro mòr, & a leva por ser gaja 
sua. 
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Grilo, Fernando, "Nicolau Chanterene: escultor e arauto de D. Joao III", in Revista do Centro de Hitória da Universidade de Lisboa, vol.9, 2003, pp.87-106.
Grilo, Fernando, "Nicolau Chanterene e afirmação da escultura do Renascimento na Península Ibérica (c. 1511 - 1551)", Doctoral thesis, Univ. de Lisboa, 2000. (pdf.)
Raczyski, Atanazy, Les arts en Portugal, Paris: Jules Renouard, 1846. (Internet Archive.) In Pétition de Garcia Fernandez, pp.212ff., we find Son Altesse lui accorderait l'emploi de héraut d'armes ...
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